segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Afasto

O despertador toca. Todo o dia toca. Todos os dias ela acorda, um acordar preguiçoso de quem se pergunta o porquê. Uma dessas perguntas sem respostas, que servem apenas pra saber que naquele momento ela não representa seu íntimo.

E todos os dias seguem como música, como novela com trilha sonora, cada momento tem seu tom, cada desgaste tem seu lamento, cada sorriso, um hino. E claro que engasga em palavras não ditas, em lições não dadas, alforrias não proclamadas e inteligências reprimidas. O mundo não era um lugar de sinceridades, e ela sabia. No mundo, a música se mantém na mente, como um mantra que não te deixa enlouquecer. Porque o mundo é silêncio.

Mas as sextas-feiras, não. Às sextas-feiras seguia para o bar local de poucas luzes e muitos sorrisos. Lá todos os silêncios reprimidos eram temas de amor. Lá seu sorriso era limpo e honesto, seu sexo não era leviano, sua sinceridade era acatada e sua amada lhe caía aos ombros, serena e calma, como uma lua no céu. Porque o mundo pode ser silencioso, mas refugia esconderijos de barulhos, desses que te salvam a alma até mesmo de si. E num desses mocós de felicidade estava a dela, que naqueles momentos a vivia com certa satisfação, um orgulho de viver digna e no proibido, escondida no âmbar de uma esquina qualquer.

Anônima de si, todos os dias segue. Um eu que vive e não volta pra casa, fica lá. Quem segue é só a sobrevivente, a que resiste e não morre. A que cala, a que esquarteja, a mão cega que executa antes que o coração perdoe - outra música dos dias vazios. Mas não esquece de si. Todas as sextas vai encontrar-se no bar de luz âmbar e sombras acolhedoras. Lá sua serenata é alta e sua música externada. Lá a palavra é dita, toda a verdade é suportada. Lá o mundo é de verdade. Depois volta pro mundo que não existe, não sabe não voltar. Mas não se esquece de si.



Canção pra não voltar
A banda mais bonita da cidade




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mina de Sampa

O que acontece é que todos os dias nada acontece, e nada é muito, muito vazio! Alguém aqui já percebeu como o nada e o vazio são pesados? Deveriam ser leves, um vácuo existencial, mas não são. O nada é cheio de algo que não sei bem o quê, e pesado. É pesado, e sobre o peito, não nos deixa arfar. O vazio quase explode, tão cheio de angústia que é. É engraçado chamar o vazio de vazio: ele é entupido de nós mesmos! Sentir vazio é estar cheio de si. Sentir que nada acontece é aguentar o peso do mundo em seu peito. Isso deve ser culpa! Talvez seja medo...

Estava no meu twitter matinal e vi um comentário de Rita Lee: "Impaciência é sinal de pressa, pressa é preocupação, preocupação é medo, medo é o pecado original". Li sem querer, não a sigo pra não encher minha TL, mas a amo. Rita Lee não é desse mundo, fato! Vi o comentário pq hoje é aniversário de São Paulo, não há como pensar em um sem lembrar de outro! Sem contar que uma amiga mandou o clipe "As minas de Sampa" e a lembrança de que sou uma. Gosto de São Paulo e o anonimato que ele me proporciona. Uma cidade cheia de vazios, e com isso eu me identifico.

Odeio ter medo. Sim, o medo me preocupa, me acelera, me impacienta, me deixa ansiosa. Ansiosa! Há quem me defina como tranquila, eu me defino como tranquila, mas é uma máscara. Sou ansiosa, e vivo em pecado. Pecado da preguiça, da gula, da avareza, da luxúria, da ira, da inveja e soberba. Agora Rita Lee me arrumou o pecado do medo, oito pecados que fazem de mim o que eu sou, esse congestionamento de nadas infinito.

Oito! Oito me lembra mesmo o infinito, todas as possibilidades inexistentes, como um céu brilhante e intocado. Adoro céus estrelados. Aquele tapete de céu que nos afixa o olhar e apaixona. Tenho uma relação eterna e perfeita com o céu. Está lá para sempre pra mim, pq sei que é intocável a todos. Ninguém pode estragar, qq um pode tê-lo também, mas será sempre o meu imaculado céu, base das virtudes do mundo e guardião de meus mais secretos segredos e silêncios - aqueles que nem mesma eu vasculhei.

Ironicamente o número 8 representa o que está em equilíbrio: a Justiça! Anúbis julga os mortos através de uma balança: de um lado o coração do iniciado, do outro uma pena. Ah, Anúbis, não julgue meu coração. Sua pena voaria tão longe que alcançaria minhas estrelas. Não as tire de mim, não as macule! Até seria bacana ter uma constelação em forma de pena, virar uma figura mitológica intocada, mas não agora.

Agora eu quero descer ao Anhanguera, virar ponto na multidão, talvez ser assaltada, talvez beijar na boca, correr pra República a noite e ver Ney Matogrosso. Hoje é dia de São Paulo, bebê. E eu sou uma Mina de Sampa!




 

sábado, 21 de janeiro de 2012

É o amor, c'est la vie!

"É o amor, c'est la vie, só você me trouxe aqui...". Hoje lembrei do comercial da coca-cola, um elefante nadando, atravessando o mar em busca de sua coca-cola amada. Era um comercial lindo! Adoraria ter uma coca-cola pra amar, alguém pra chamar de coca-cola. Alguém que me saciasse. Por que nada completa, nada basta, nada me alcança, e estou farta de tentativas vis, fúteis e desgastantes.

Hoje estou aqui com Lambão deitado encostadinho em minha perna. Ele está dormindo tão gostoso, que sinto seu alívio em estarmos só nós dois. Chove lá fora! A semana foi complicada pra ele. Domingo apareci com um filhote de cachorro, uma namorada e um sobrinho. Ele ficou bastante escandalizado, mas observava tudo quieto. Via com bastante curiosidade ao filhote que corria feliz pela casa, era atento a tudo, mas indiferente. Não participava da felicidade da casa. Acho que somos parecidos, Lambão e eu: vemos atentos, estamos lá, mas não participamos. É um dom do alheismo que nos permite a inteligência e os golpes certeiros. O cachorro se foi, a namorada, o sobrinho. Estamos aliviados.

Estar armado é como ter um terceiro olho pronto pra atirar. A arma vai onde seus olhos vão, vira onde seus olhos viram, observa os seis lados a sua volta. Tenho seis lados, como um cubo. Cada lado tem um eu de mim, que me torna oposta de mim mesma. Como num dadinho de jogar, a soma de meus lados opostos forma 7, como meus infinitos eus, incógnitos e variados, como meu número cabalístico. Sete é a soma de três e quatro, números fortes. Quatro é um número de reinício, renovação, e tô com ele e não abro. Cada um tem de mim o lado que merece!

Enquanto lia as novidades dos amigos no facebook, lembrei não sei porque de uma música da Cássia Eller: 1 de Julho. "Não basta o compromisso, vale mais o coração. E já que não me entendes, não me julgues, não me tentes". Ela nunca entendeu nada, e não a culpo por isso. Foi equivocada no modo de agir, de mentir, mas não a culpo por isso. Discursou aos meus amigos que eu não estava plena no relacionamento enquanto tinha outro, mas também por isso não a culpo. Me culpo por ter cedido as tentativas da pessoa errada, só por não saber qual é a certa. É difícil saber o que esperar da vida: ela também tem seis lados de soma oposta sete, e nem sei em que lado estou.

Lambão deitado aliviado em minhas pernas: estamos cansados. Passei a semana em um stand de tiro, 500 disparos e mais alguns. Os mais alguns foram de alma, não tenho medo de acerta-las em cheio, nem pena. Aprendi que se sacamos a arma, é pra matar. Não existe tiro de alerta. Claro que não saio pela vida de arma em punho. Até diria se saio de peito aberto, e deixo a vida viver. A vida deve ser vivida solta, cada um que saiba o que faz. Estar armada significa apenas que sabe eliminar quem apresenta risco iminente. E um único tiro basta, é certeiro, não é pra ficar fazendo barulho, nem sujeira. Um único tiro, a saída a francesa, e não se olha pra trás.

Enfim, "alguma coisa aconteceu, do ventre nasce um novo coração". Dia 16/01 foi meu aniversário, estou renascida, o ano começa, o ar que entra não é mesmo ar que sai. Vi num filme lindo que adoro, A Excêntrica Família de Antônia, que “o tempo não cura feridas, mas alivia a dor e embassa a memória”. Quem me conhece sabe que tenho péssima memória (e em todos os meus seis lados de soma oposta 7). 
Fato que não a amava. E peço desculpas por ter tentado sem amor.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Despetalando

E estou aqui, despetalando. Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal me quer...

Ah quem me chame de flor! Prefiro ainda a definição de cebola, mesmo que hoje sinta caindo pétalas sedosas e tristes. Sim, feri o cravo, mas saí despedaçada. Uma ironia em cantiga da vida moderna.

Passei o Natal nos meus avós, como sempre! O de sempre, mas pensava nela, e isso era diferente. Pensava em muitas coisas além, em como não conheço minha cidade natal, muito mais por "Éramos Seis" e pelas fantasias coloniais que tenho quando vejo suas estreitas ruas de paralelepípedo.

Aqui em São Paulo tem uma livraria que gostava muito de frequentar, meio comuna, um tanto de esquerda, que até agra minha lembrança imaginativa pensava ficar na Barão de Itapetininga, mas não, pasme. Esta fica perto da República, a livraria é perto da Augusta... uma pena!. Mas entre a Augusta e a Frei Caneca tem um bar ótimo: Barão de Itararé. No cardápio tem frases e passagens da vida deste boêmio-autor, inteligente, sacado e bem humorado. Aí eu fico pensando: nem ligaria de ser Itarareense. Me identifico!! O mesmo digo do Salve Jorge, um ótimo bar em frente ao Bovespa, com o melhor chopp Brahma Black que conheço e frases sacadas pro santo, com direito aos 10 mandamentos da boemia. Ai, ai, São Jorge, me empresta o dragão.

Ogum foi o primeiro orixá a descer aqui pra terrinha. Cabra macho esse Ogum. Eu não descia!!! Venho aqui pq to pagando, é carma em cima de carma, notinha por notinha, pague uma e ganhe duas! Meus carmas mais parecem dívida externa no plano cruzado! Mas sou pobre da classe CDF, pago tudo, devo nada pra ninguém. E se eu to pagando, me banco, se me banco, me basto, se me basto sinto sua falta!

Sinto sua falta, não posso esperar tanto tempo assim! É um tic-tac do amor. Eu consigo escutar aqui em meu peito: tictac, tictac, tictac, talvez o amor tbém tenha relógio biológico. Ou talvez seja uma bomba relógio: decifra-me ou te devoro! Eu aqui despetalando tudo, tentando marcar o passo, acertar a senha, chegar ao fundo, e de repente tudo aos ares no segundo seguinte: é a vida!

Mas tenho urgência! Que disparem todas as bombas, que exploda meu coração, que toquem os sinos, anunciem o final dos tempos, quem se importa?: tenho urgência. Urgência da certeza, do sentir, do pegar. Tenho urgência de realidade, mesmo sabendo que toda chaminé tem fuligem e que toda cebola faz chorar. Chore mundo, eu me despetalo. Bem me quer, mal me quer, mas queira!